De cada vez que ele canta, rimos como tolos, pelo inusitado de ter um vizinho galo, e os nossos mini-meninos cacarejam e correm pela casa batendo as asas imaginárias. Nas almofadas do sofá da sala há pistas de aterragem para os voos dos nossos meninos-galo. E quando a aterragem corre mal, a mãe-galinha lá está, com os beijinhos milagrosos que (ainda) curam todas as dores.
É esmagador o tempo que vivemos. Batemos de frente contra a nossa pequenez e a nossa impotência. Temos medo, do presente mas sobretudo do futuro, da incerteza daquilo que nos espera, dos augúrios de novas crises para chegar. Temos saudades das pessoas que podemos ver – valha-nos a banda larga - mas não podemos sentir e vamos acumulando abraços, ansiando que venha o tempo de os soltar. Temos uma admiração e uma gratidão inexprimíveis por aqueles que vestem batas e fardas e capas de super-heróis e estão lá fora, a tentar que a COVID19 não interrompa também a vida. Não há como conter as lágrimas ao pensar neles...
É um tempo esmagador, assustador, angustiante!
Mas sei que daqui a pouco o nosso vizinho galo vai cantar. E lá virá a risota e um menino-galo cacarejando, a voar pela sala. Entre o surreal desatino que vivemos, cacarejamos! Foi a COVID19 quem nos apresentou o galo e isso foi maravilhoso!
Ao nos fechar em casa, permitiu-nos estar em casa! Trouxe o tempo sem relógio e os abraços sem tempo. Trouxe os dados, as cartas e os puzzles, trouxe a pista de carros telecomandados e o forte de cobertores no meio da sala, trouxe bolos e pizzas amassadas por dedos gulosos. E há tempo para tudo! Acabamos a ser mágicos, cientistas e encenadores. Somos monstros verdes e assustadores e caçamos mini-monstros verdes e adoráveis. E há tempo para tudo! Vivemos num abraço a quatro, crescemos abraçados (o mini-Daniel acaba de soprar 5 velas com tele-aplausos) e cacarejamos! Há tempo…
Ao nos fechar em casa, a COVID19 deu-nos tempo! E enquanto suspendeu o nosso trabalho em fotografia, também potenciou o nosso lazer em fotografia…e o prazer!
Ora vejam…